Mãos que cuidam de história
Relatos de quem vive em prol de ajudar devotos da Padroeira do Brasil.
Por Nicollas Rufino

(Foto: Santuário Nacional de Aparecida (Divulgação))
O conceito de Anjo da Guarda para os católicos é o de um anjo que exerce a função de protetor e pode ser visto como guia divino, disposto a ajudar os humanos constantemente. E é assim que muitos romeiros enxergam os voluntários e a equipe médica do Santuário de Nossa Senhora Aparecida: uma proteção por trás das peregrinações, os ajudando e os curando ao atingir o objetivo de sua caminhada de fé e superação. Relatos como uma maternidade impossível ou um senhor que mesmo com o pé amputado encontrou forças e vontade para terminar sua provação, são alguns de muitos acontecimentos que os “protetores” vivenciam no seu dia a dia.
O Santuário Nacional de Aparecida possui uma equipe médica com mais de 1.000 voluntários participantes, o que possibilita aos romeiros o acesso à tenda exclusiva de apoio e a ambulatórios espalhados por toda a extensão do complexo religioso. Ao todo são atendidas mais de 22 mil pessoas por ano. “A gente está aqui para poder prestar esse atendimento de emergência, para poder aliviar aquilo que a pessoa está sentindo, para ela poder voltar e desfrutar tudo que o Santuário oferece aos devotos”, relata Fabiana Maciel, coordenadora da equipe administrativa e de enfermagem da Basílica há seis anos.
Na televisão e nos jornais, notícias de romeiros que realizam essa caminhada da fé são mostradas com depoimentos emocionantes. Porém, a realidade dos protetores é diferente, sendo eles os responsáveis por ajudar a cuidar para que histórias como essas tenham finais felizes.
"Quando o peregrino chega lá com os pés cansados, machucados, a gente acolhe essas pessoas. Elas sentam, tomam uma água, e depois encaminhamos para os lava pés onde os voluntários lavam os pés da pessoa e tira toda a sujidade [...] Elas vão para maca onde os profissionais vão fazer o curativo, deixar tudo certinho. E também entra o pessoal da massagem, do relaxamento e da fisioterapia", explica o doutor João Felipe Elache, médico que contribui para apoio aos romeiros do Santuário.
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HISTÓRIAS DE DEVOÇÃO.
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Nem todas as histórias são expostas. Muitas vezes, somente quem está ali vivendo o momento descobre como acontecimentos particulares transforma vidas e reforçam a fé.
Certa vez, palmas se iniciaram no meio de uma multidão no Santuário, e lá se destacava a figura de uma mulher no centro das tendas de apoio. O rebuliço causou surpresa e dúvida em Fabiana e sua equipe. Prontamente, foram entender a situação e descobriram uma das histórias que marcariam suas vidas para sempre: uma mulher que tinha o sonho de ser mãe e que teoricamente não poderia engravidar. Ela então iniciou um tratamento, fez sua promessa para a padroeira, e depois de muita fé e oração, viveu o momento mais importante de sua vida. A menina completava seus sete meses, em casa, e como forma de agradecimento, a mãe fez sua romaria até o Santuário.
Em outro caso, um homem que também foi caminhando até a Basílica acabou chocando e emocionando bastante os que estavam presente. Na ocasião, o idoso tinha um pé amputado e mesmo com esse empecilho, não deixou isso impedir de seguir seu objetivo. "Essas histórias marcam muito, pois às vezes a gente que mora aqui tão perto e não vem, mas muitos que moram tão longe, vem em agradecimento a nossa senhora Aparecida. As pessoas se esforçam tanto para vir e nós que estamos aqui do lado, nos esquecemos de passar aqui", diz Fabiana.
SAÚDE E BEM-ESTAR
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Ao falar de saúde, é importante ressaltar que a parte emocional também se reflete no dia a dia dos funcionários do Santuário. A equipe possui um funcionário que atua há mais de 30 anos e se destaca pela compaixão que possui e serve a todos que passam por lá, sempre com calmaria, mostrando que a presença vai além da parte física – mas também emocional e espiritual.
“Muita das vezes, os peregrinos acham que nós estamos servindo a eles, que nós estamos fazendo um bem para eles. Na verdade, é muito o contrário. Quando servimos uma pessoa, o gesto de lavar os pés, por exemplo, é um muito forte [...] Então eles fazem muito melhor para gente do que nós para eles”, conta o médico João Felipe.
“Assim como o doutor disse, para a gente é gratificante. Falando pelas tendas dos peregrinos, é um trabalho voluntário, então temos profissionais e estudantes de saúde. São pessoas que vem de coração aberto e saem daqui de forma renovada. Não tem muita explicação, mas é muito gratificante”, complementa a coordenadora.
Nem sempre os verdadeiros ‘heróis são os que aparecem na televisão e ganham manchetes. Muitos profissionais anônimos lutam para ajudar quem precisa. Por todo o contexto que envolve o Santuário, a fé e o amor a Nossa Senhora, alguns merecem destaque. Reunidos, sempre, no mesmo propósito: fazer o bem, sendo o Anjo da Guarda daqueles que precisam.
